Floresta
de Padres
O
Padre Manuel Bernardes é um mestre da boa prosa doutrinária, imbuída de
preceitos e preconceitos católicos do século XVII. Seu livro Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegmas, em 5 volumes, foi revisitado por João
Ubaldo Ribeiro, que fez uma seleção dos textos mais tragáveis pelo público de
hoje.
Embora tanto o editor quanto o
organizador do volume se derramem em elogios ao texto barroco de Manuel
Bernardes, a obra agrada apenas aos admiradores da boa prosa doutrinária, de
inspiração medieval, retomada pelos católicos portugueses e espanhóis do
século XVII. Assim, contextualizada, ela representa um importante documento,
mas para o leitor comum, que procura um bom livro para ler hoje, o que chama atenção
do texto barroco do bom padre é o seu pensamento ingênuo marcado por preconceitos,
segundo os quais a vida dos leigos não passa de um amontoado de pecados e
perdições.
As mulheres, quer sejam mães ou
freiras, mesmo assim, são vistas como criaturas perigosas e diabólicas, conforme
o pensamento corrente entre os bons e contritos religiosos da Idade Média e dos
séculos de contrarreforma. Apesar de ser um bom estilista barroco, o Padre
Manuel Bernardes não tem uma formação filosófica capaz de se comparar aos seus
conhecimentos teólogicos ou ao seu gosto pelas regras clássicas da língua
latina. O estilo deste prosador doutrinário é marcado pelo hipérbato, ou pela inversão
vocabular do discurso, bem a gosto dos leitores que apreciam o rebuscamento
pelo rebuscamento.
Por outro lado, falta ainda ao Padre
Manuel Bernardes um ingrediente que um outro seu contemporâneo, o Padre
António Vieira, adicionou às suas pregações: o talento superior, ou, sem nenhum
favor, a genialidade.
Enquanto várias passagens dos
sermões de Vieira ainda são lidas com deleite e vivo interesse pelos jovens
leitores do século XX, a prosa doutrinária de Manuel Bernardes confina-se à
temporalidade. É uma obra situada e datada.
De um lado, Vieira ultrapassa o seu
tempo e a sua circunstância jesuítica. Lembre-se que em virtude do talento e da
lucidez do seu pensamento humanístico, ele foi vítima do terror imposto pela
Santa Inquisição.
Do outro lado, Bernardes é um
prosador doutrinário bem comportado, preso ao pensamento teocêntrico medieval.
Este livro que inaugura a coleção Arte da Prosa da Nova Fronteira – convém
se dizer – restringe o alcance da série a um público mais diminuto ainda que o
já minguado público leitor brasileiro: os admiradores da boa prosa doutrinária
de inspiração católica. Só.
De quebra, alguém que se assina O Editor – e que não sabemos bem de quem
se trata – apresenta a coleção puxando as orelhas de todos nós, transgressores
da velha e inflexível gramática dos defuntos antepassados. Magister dixit.
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Floresta de padres; artigo crítico sobre Nova
floresta, de Manuel Bernardes. Seleção
e apresentação de João Ubaldo Ribeiro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 226 p. Coluna “Leitura Crítica” do jornal A
Tarde, Salvador, 6 fev. 95, p. 5.
História de Uma
Igreja
Fernando Sá, um combativo
representante do jornalismo do interior do estado, fundador e editor da Tribuna
do Povo, de Maragogipe, acaba de publicar o livro História de uma Igreja,
resultado das suas pesquisas e preocupações a respeito da igreja matriz de São
Bartolomeu. Segundo o cronista, o velho templo maragogipano começou a ser
construído, por iniciativa do vigário Manoel Coelho Gatto, em 1701, durando
cerca de setenta anos os trabalhos de alicerces até a pintura dos painéis e
altares.
O acabamento da igreja, incluindo-se
aí as pinturas sacras e as imagens, ocuparam muito tempo. Várias esculturas em
madeira ainda hoje representam importantes obras do nosso acervo, como a imagem
de São Jorge, em tamanho natural, do escultor Manoel Inácio da Costa.
Outros artistas e artesãos da época
foram contratados para os trabalhos de acabamento do templo, como Joaquim
Pereira de Matos, conhecido por Joaquim Pataca. Fernando Sá lembra que Manoel
Raimundo Querino, no livro Artistas Baianos, destaca entre os artistas
envolvidos dos trabalhos da Igreja de São Bartolomeu os nomes de Floriano de
Souza Farto, autor de dois altares nesta matriz, e do maragogipano Pedro Alexandre
de Souza, autor de um dos altares.
Observe-se que, segundo apurou
Fernando Sá, a Matriz de Maragogipe tinha originalmente onze altares ricamente
trabalhados e ornamentados. Destes foram retirados o de São Gonçalo, antigo
padroeiro de Maragogipe, e de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido criados
depois mais quatro.
No seu livro, História de uma
Igreja, Fernando Sá registra o que chama de pilhagem de várias obras de
valor do patrimônio da Matriz, como um facão de ouro, da imagem de São
Bartolomeu, candelabros de cristal e alfaias de prata e pedras preciosas. Ainda
segundo o cronista e historiador do templo de Maragogipe, a transferência
destas relíquias para lugares ignorados deu-se durante a administração do
Cardeal da Silva. Ele vem tentando aputar, sem sucesso, o destino destas peças.
Obras como esta de Fernando Sá, a
partir de uma perspectiva local, contribuem para uma história dos monumentos e
da cultura na Bahia. Ao lado do seu irmão, Osvaldo Sá, Fernando Sá integra o
mais expressiva esforço para o conhecimento da história do recôncavo baiano.
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Leitura Crítica é publicada todas as segundas-feiras,
na página 5 do segundo
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