10/11/2015

Breviário

BREVIÁRIO E REVISTA DA ACADEMIA

            A Academia de Letras da Bahia está com duas publicações nas livrarias: o Breviário, em segunda edição, e a sua Revista, que chega ao número quarenta.
            O Breviário da Academia de Letras da Bahia, de autoria do historiador e bibiófilo Renato Berbert de Castro, nesta nova edição atualizada, registra a história da instituição e dos seus mebros, desde a 1917, ano em que foi fundada, até 1994. Pela riqueza dos dados reunidos por Renato, um pesquisador sério e incansável, oBreviário não é apenas um livro útil a quem queira conhecer a história das Academia, mas um documento imprescindível para a história da inteleigência no nosso Estado.
            Como a Academia é um clube de convivência intelectual que reúne uma significativa parcela das mais destacadas figuras do mundo cultural, quer na ára das Letras, que lhe dá nome, quer em outras áreas onde o fazer humano, ou a cultura, acrescenta algo à natureza, ao reunir dados para a história do sodalício, Renato Berbert de Castro publica uma importante contribuição para a história da inteligência e do pensamento na Bahia.
            O número quarenta da Revista da Academia de Letras da Bahia, publicação dirigida por Edivaldo Boaventura, traz artigos de quase todos os seus membros, desde James e Jorge Amado a Jorge Calmon, Cláudio Veiga, atual presidente da instituição, Luís Viana Filho, Antonio Carlos Magalhães, Josapath Marinho, Wilson Lins, João Eurico Matta, Renato Berbert de Castro, Edivaldo Boaventura, Anna Amélia Nascimento, Thales de Azevedo, Hildegardes Vianna, Itazil Benício dos Santos, Ary Guimarães, Carlos Eduardo da Rocha, Waldemar Mattos, Rubem Nogueira, Mons. Gaspar Sadock, Waldir Freitas de Oliveira, José Silveira, Gérson Pereira dos Santos, Jaime de Sá Meneses, Walfrido Morais, Cid Teixeira, Hélio Pólvara, Consuelo Novais Sampaio, Luis Henrique, Vasconcelos Maia, Epaminondas Costalima, Myriam Fraga, Oldegar Vieira, João Carlos Teixeira Gomes, Ivan Americano, Carvalho Filho, Godofredo Filho, Clóvis Lima, Paulo Ormindo e José Calasans. Pela lista incompleta de colaboradores deste número pode-se aquilatar a extensão do volume: são quase quinhentas páginas de artigos, pronunciamentos e textos de criação literária.
            Convém ressaltar ainda que a Revista da Academia de Letras da Bahia é uma das mais antigas revistas do país: com seus trinta anos de fundada, continua viva e atuante, chegando a este número com pleno vigor e com uma vasta seleção de textos. Nos últimos anos sua publicação vem sendo patrocinada pelo Desenbanco, num excelente exemplo de como uma empresa estatal pode servir ao desenvolvimento cultural da comunidade.

Mulher a 40 graus assombra
  
            Enfim um livro, escrito por mulheres e voltado para mulheres, que não se arma de lanças, escudos e outras armas de gênero. Um livro útil para as mulheres que entram na faixa dos quarenta anos, com seus problemas, pensares e aspirações. Pelo rigor, leve e despretensioso, do tratamento dado ao tema, é um livro que o homem também deve ler, para compreender de perto a mulher dessa faixa de idade.
            Três psicólogas com formação em psicanálise saíram do seu lugar de escuta e falaram como mulheres de mais de quarenta anos. Falaram de forma bem humorada e inteligente sobre sexo, solidão e, principalmente, sobre a proximidade da velhice e a presença da morte, fantasmas que assustam todo ser humano.
            Embora não se trate de um livro sustentado em entrevistas, as autoras tiveram o cuidado de associar à sua vivência clínica algumas horas de conversas francas e diretas como mais de vinte pessoas; mulheres e homens de profissões diversas. Todos com mais de quarenta anos. A experiência dos entrevistados funciona como uma espécie de revisão bibliográfica informal do tema.
            Alguns capítulos de Mulher 40 Graus à Sombra são exemplares, fugindo mesmo ao lugar comum forçoso aos livros do gênero. Quando as autoras abandonam a natureza documental e passeiam em torno do tema chegam a impessoalidade ou, mesmo, à ficcionalidade das situações. Estas são passagens que lemos com o prazer de fruição de um texto literário, isto é, de um texto que não se aplica a uma situação única, situada e datada, mas transcende à sua circunstância para se inscrever na sensibilidade de qualquer leitor que a tenha.
            Divertido e levemente amargo é o humor de uma certa “carta ao marido”, que funciona como uma ducha fria em meio à sonolência, quando confrontado com o seu pequeno apêndice: o “bilhete ao amante”. Outras passagens poderiam também ser destacadas, mas fica a sugestão ao próprio leitor ou leitora para fazê-lo.
            Da leitura do livro fica a confirmação de uma certeza: a mulher madura tem seus encantos e poderes, ganhos pela experiência da reflexão e do próprio corpo, já sábio de desejos e prazeres. Conforme as autoras ensinam, é também nesta idade que a mulher aprende a “usar o corpo menos como uma arma de sedução e, cada vez mais mais, como morada confortável do próprio eu.” Lição utilíssima para toda a vida.
            Se para uns, mulher a quarenta graus assombra, para outros atrai e seduz. Principalmente quando chega aos quarenta graus à sombra...
            Para concluir, convém dizer que embora o livro se estruture de forma natural e alheio aos esquemas do mundo acadêmico ou científico, obedece a um rigoroso projeto: o de ser ao mesmo tempo útil e agradável de ler. Enfim, um livro como deve ser qualquer bom livro: inteligente.

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Mª Lúcia Pereira, Regina Pimentel e Mariana Fontes. Mulher 40 Graus à Sombra – Reflexões sobre a vida a partir dos 40 anos. Rio de Janeiro, Objetiva, 1994.

Mulher a 40 graus assombra (resenha de livro). “Livros & Idéias”, seção do jornal A Tarde, Salvador, 17 out. 94, p. 5.

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