Repensar a Pós-Graduação
Com um vasto currículo na área da
educação, que inclui desde a pós-graduação na França, o doutorado nos Estados
Unidos, a livre docência e o concurso de Professor Titular na UFBA, Edivaldo
Boaventura foi ainda Secretário de Educação e Cultura, por duas vezes, e
Presidente do Conselho Estadual de Educação. Ele vem transformando a sua
experiência pessoal, como antigo aluno de pós-graduação, em relatos destinados
a contribuir para a reflexão sobre o tema.
Em 1984 publicou pela Tempo
Brasileiro A segunda casa, um panorama da vida acadêmica na Pennsylvania
State University. Agora, aborda diretamente algumas questões ligadas à
pós-graduação, historiando a sua experiência como candidato ao doutorado
naquela Universidade. Com isto, pretende levantar pontos aplicáveis à
estruturação dos programas brasileiros. Daí o livro incluir também um relato
acerca do projeto de implantação do programa de Doutorado em Educação da UFBA,
da qual foi um dos fundadores e o primeiro coordenador.
Neste momento de expansão da
pós-graduação na Bahia, quando a UFBA já conta com cursos de Mestrado em quase
todas as áreas de conhecimento, partindo para a abertura de novos programas de
Doutorado, toda reflexão sobre o tema reveste-se de importância e oportunidade.
O depoimento pessoal do Professor
Doutor Edivaldo Boaventura, enquanto antigo aluno da pós-graduação nos Estados
Unidos, serve como alerta para a distância entre as condições oferecidas
naquele país e a precariedade dos meios de que dispõem os agentes da educação
no Brasil. Aqui, o entusiasmo e a improvisação precisam superar os empecilhos
gerados pelas políticas governamentais.
Basta lembrar que, para o governo
brasileiro, a educação não é vista como investimento, mas como gasto sem
retorno. Este parti pris já define e limita o processo educacional do
país. É bom se ressaltar que nos discursos e ações dos homens públicos
brasileiros, ainda é o caudilho Leonel Brizola, como toda seu anacronismo, quem
vê a educação como o grande investimento para um país que pretende alcançar o
desenvolvimento global. Políticos sintonizados com as recentes e bruscas
mudanças da sociedade continuam compreendendo a educação como qualquer coronel
da roça, incluindo-se aí ilustres intelectuais. E o resultado é o Brasil em que
vivemos e aquele que legaremos aos nossos filhos, ainda pior do que este.
Como os resultados do investimento
na educação só se fazem sentir a longo prazo, a celeridade dos nossos dias
desconhece este caminho de se construir uma sociedade menos injusta. É difícil,
portanto, se conciliar a qualidade requerida pelos programas de pós-graduação,
a nível de Mestrado e de Doutorado, com as condições e os recursos disponíveis.
No seu livro, o Professor Edivaldo
Boaventura focaliza a exigência dos programas norte-americanos de Doutorado de
integração à vida no campus universitário. Assim, o estudante graduado,
candidato ao grau de doutor, deve residir na Universidade durante pelo menos um
ano. Esta exigência de disponibilidade permite o melhor cumprimento das tarefas
acadêmicas.
Sabemos que no Brasil tal coisa
seria impensável. Basta lembrar que, em muitos casos, a pós-graduação é
cumprida nas horas vagas. Alguns programas planejam seus cursos para serem
circunscritos a dois dias na semana,
como é o caso do Mestrado em Letras da UFBA, visando assim melhor se
adequar à realidade da clientela.
Comparar as condições de execução de
um programa de Doutorado em países do primeiros mundo com as condições
brasileiras, e especialmente com a realidade baiana, ajuda a buscar soluções
criativas. Neste sentido a leitura do livro As Etapas do Doutorado, de
Edivaldo Boaventura, apresenta uma contribuição sobretudo oportuna.
___________
Edivaldo
Boaventura. As Etapas do Doutorado.Salvador,
UNEB, 1994.
Repensar
a pós-graduação (artigo crítico). “Crítica & Idéias”, seção do jornal A Tarde, Salvador, 14 nov. 94, p. 5.
Histórias
do interior
Osvaldo Sá é um velho poeta e
cronista do Recôncavo Baiano. Figura intelectual mais importante de Maragogipe,
dá continuidade a uma tradição poética da cidade, que teve um dos seus momentos
altos com a figura de Durval de Moraes, poeta maragogipano e companheiro de
geração de Pedro Kilkerry, nascido na vizinha cidade de Santo Antonio de Jesus.
Através de uma obra que já perfaz um
total de dezenove volumes, Osvaldo Sá vem reconstituindo, pedaço a pedaço, a
história da sua gente, ora através dos versos deste poeta que continua fiel a
uma tradição pré-modernista, ora através de crônicas que entrelaçam ficção e
pesquisa documental. São as chamadas Histórias
Menores de Osvaldo Sá, manancial para futuras investigações sobre a vida do
recôncavo baiano.
Se todas as cidades do interior
tivessem o seu cantor e cronista, como Maragogipe tem a Osvaldo Sá, a pesquisa
para uma história da Bahia, a partir das suas regiões, seria bem viável.
A
sombra do palmeiral é um conjunto de crônicas que dá continuidade ao seu
trabalho de prosador, iniciado com o livro Maragojipe
humorístico e tão bem aprofundado nos três volumes de Histórias Menores. “Lendas e histórias”, “No mundo de assombros” e
“A minha santa natureza” são as três partes deste novo livro de Osvaldo Sá.
Aqui, a memória se entrelaça com a história local. O autor permeia os fatos da
sua cidade com acontecidos durante a sua estadia na capital, fazendo com que o
foco se perca em busca de outros espaços.
Mais precisos seriam os objetivos
desta crônica do interior, ou destas memórias pessoais e citadinas, se o autor
circunscrevesse a geografia do seu relato à sua região. Aqui, ele trabalha sua
colcha de retalhos juntando memórias e histórias menores. Lembranças de
episódios ocorridos em outros lugares caberiam mais apropriadamente em livros
como Vala dos meus dias, que reúnem
memórias.
Mas de uma coisa o leitor fica
convencido: Osvaldo Sá é escritor. Sua pena corre suave e agradavelmente por
sobre o papel da nossa imaginação. Às vezes, o preciosismo e a busca de uma
adjetivação erudita aplicada a situações cotidianas quebram, um pouco, a
sugestão de uma paisagem humana singela, que é a tônica das suas narrativas.
Mas em seguida, a simplicidade é reencontrada pela sua escrita, assegurando o
prazer da leitura.
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Osvaldo
Sá. À Sombra do Palmeiral. Cachoeira,
Editora Gráfica Paraguaçu, 1994.
Histórias
do interior (resenha de livro). “Crítica & Idéias”, seção do jornal A
Tarde, Salvador, 14 nov. 94, p. 5.
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Livros & Idéias é publicada toda segunda-feira,
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