26/10/2015

Pós-Graduação

Repensar a Pós-Graduação

            Com um vasto currículo na área da educação, que inclui desde a pós-graduação na França, o doutorado nos Estados Unidos, a livre docência e o concurso de Professor Titular na UFBA, Edivaldo Boaventura foi ainda Secretário de Educação e Cultura, por duas vezes, e Presidente do Conselho Estadual de Educação. Ele vem transformando a sua experiência pessoal, como antigo aluno de pós-graduação, em relatos destinados a contribuir para a reflexão sobre o tema.
            Em 1984 publicou pela Tempo Brasileiro A segunda casa, um panorama da vida acadêmica na Pennsylvania State University. Agora, aborda diretamente algumas questões ligadas à pós-graduação, historiando a sua experiência como candidato ao doutorado naquela Universidade. Com isto, pretende levantar pontos aplicáveis à estruturação dos programas brasileiros. Daí o livro incluir também um relato acerca do projeto de implantação do programa de Doutorado em Educação da UFBA, da qual foi um dos fundadores e o primeiro coordenador.
            Neste momento de expansão da pós-graduação na Bahia, quando a UFBA já conta com cursos de Mestrado em quase todas as áreas de conhecimento, partindo para a abertura de novos programas de Doutorado, toda reflexão sobre o tema reveste-se de importância e oportunidade.
            O depoimento pessoal do Professor Doutor Edivaldo Boaventura, enquanto antigo aluno da pós-graduação nos Estados Unidos, serve como alerta para a distância entre as condições oferecidas naquele país e a precariedade dos meios de que dispõem os agentes da educação no Brasil. Aqui, o entusiasmo e a improvisação precisam superar os empecilhos gerados pelas políticas governamentais.
            Basta lembrar que, para o governo brasileiro, a educação não é vista como investimento, mas como gasto sem retorno. Este parti pris já define e limita o processo educacional do país. É bom se ressaltar que nos discursos e ações dos homens públicos brasileiros, ainda é o caudilho Leonel Brizola, como toda seu anacronismo, quem vê a educação como o grande investimento para um país que pretende alcançar o desenvolvimento global. Políticos sintonizados com as recentes e bruscas mudanças da sociedade continuam compreendendo a educação como qualquer coronel da roça, incluindo-se aí ilustres intelectuais. E o resultado é o Brasil em que vivemos e aquele que legaremos aos nossos filhos, ainda pior do que este.
            Como os resultados do investimento na educação só se fazem sentir a longo prazo, a celeridade dos nossos dias desconhece este caminho de se construir uma sociedade menos injusta. É difícil, portanto, se conciliar a qualidade requerida pelos programas de pós-graduação, a nível de Mestrado e de Doutorado, com as condições e os recursos disponíveis.
            No seu livro, o Professor Edivaldo Boaventura focaliza a exigência dos programas norte-americanos de Doutorado de integração à vida no campus universitário. Assim, o estudante graduado, candidato ao grau de doutor, deve residir na Universidade durante pelo menos um ano. Esta exigência de disponibilidade permite o melhor cumprimento das tarefas acadêmicas.
            Sabemos que no Brasil tal coisa seria impensável. Basta lembrar que, em muitos casos, a pós-graduação é cumprida nas horas vagas. Alguns programas planejam seus cursos para serem circunscritos a dois dias na semana,  como é o caso do Mestrado em Letras da UFBA, visando assim melhor se adequar à realidade da clientela.
            Comparar as condições de execução de um programa de Doutorado em países do primeiros mundo com as condições brasileiras, e especialmente com a realidade baiana, ajuda a buscar soluções criativas. Neste sentido a leitura do livro As Etapas do Doutorado, de Edivaldo Boaventura, apresenta uma contribuição sobretudo oportuna.

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Edivaldo Boaventura. As Etapas do Doutorado.Salvador, UNEB, 1994.

Repensar a pós-graduação (artigo crítico). “Crítica & Idéias”, seção do jornal A Tarde, Salvador, 14 nov. 94, p. 5.



Histórias do interior
  
            Osvaldo Sá é um velho poeta e cronista do Recôncavo Baiano. Figura intelectual mais importante de Maragogipe, dá continuidade a uma tradição poética da cidade, que teve um dos seus momentos altos com a figura de Durval de Moraes, poeta maragogipano e companheiro de geração de Pedro Kilkerry, nascido na vizinha cidade de Santo Antonio de Jesus.
            Através de uma obra que já perfaz um total de dezenove volumes, Osvaldo Sá vem reconstituindo, pedaço a pedaço, a história da sua gente, ora através dos versos deste poeta que continua fiel a uma tradição pré-modernista, ora através de crônicas que entrelaçam ficção e pesquisa documental. São as chamadas Histórias Menores de Osvaldo Sá, manancial para futuras investigações sobre a vida do recôncavo baiano.
            Se todas as cidades do interior tivessem o seu cantor e cronista, como Maragogipe tem a Osvaldo Sá, a pesquisa para uma história da Bahia, a partir das suas regiões, seria bem viável.
            A sombra do palmeiral é um conjunto de crônicas que dá continuidade ao seu trabalho de prosador, iniciado com o livro Maragojipe humorístico e tão bem aprofundado nos três volumes de Histórias Menores. “Lendas e histórias”, “No mundo de assombros” e “A minha santa natureza” são as três partes deste novo livro de Osvaldo Sá. Aqui, a memória se entrelaça com a história local. O autor permeia os fatos da sua cidade com acontecidos durante a sua estadia na capital, fazendo com que o foco se perca em busca de outros espaços.
            Mais precisos seriam os objetivos desta crônica do interior, ou destas memórias pessoais e citadinas, se o autor circunscrevesse a geografia do seu relato à sua região. Aqui, ele trabalha sua colcha de retalhos juntando memórias e histórias menores. Lembranças de episódios ocorridos em outros lugares caberiam mais apropriadamente em livros como Vala dos meus dias, que reúnem memórias.
            Mas de uma coisa o leitor fica convencido: Osvaldo Sá é escritor. Sua pena corre suave e agradavelmente por sobre o papel da nossa imaginação. Às vezes, o preciosismo e a busca de uma adjetivação erudita aplicada a situações cotidianas quebram, um pouco, a sugestão de uma paisagem humana singela, que é a tônica das suas narrativas. Mas em seguida, a simplicidade é reencontrada pela sua escrita, assegurando o prazer da leitura.

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Osvaldo Sá. À Sombra do Palmeiral. Cachoeira, Editora Gráfica Paraguaçu, 1994.

Histórias do interior (resenha de livro). “Crítica & Idéias”, seção do jornal A Tarde, Salvador, 14 nov. 94, p. 5.

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