Mulher a 40 graus assombra
Enfim
um livro, escrito por mulheres e voltado para mulheres, que não se arma de
lanças, escudos e outras armas de gênero. Um livro útil para as mulheres que
entram na faixa dos quarenta anos, com seus problemas, pensares e aspirações.
Pelo rigor, leve e despretensioso, do tratamento dado ao tema, é um livro que o
homem também deve ler, para compreender de perto a mulher dessa faixa de idade.
Três
psicólogas com formação em psicanálise saíram do seu lugar de escuta e falaram
como mulheres de mais de quarenta anos. Falaram de forma bem humorada e
inteligente sobre sexo, solidão e, principalmente, sobre a proximidade da
velhice e a presença da morte, fantasmas que assustam todo ser humano.
Embora
não se trate de um livro sustentado em entrevistas, as autoras tiveram o
cuidado de associar à sua vivência clínica algumas horas de conversas francas e
diretas como mais de vinte pessoas; mulheres e homens de profissões diversas.
Todos com mais de quarenta anos. A experiência dos entrevistados funciona como
uma espécie de revisão bibliográfica informal do tema.
Alguns
capítulos de Mulher 40 Graus à Sombra
são exemplares, fugindo mesmo ao lugar comum forçoso aos livros do gênero.
Quando as autoras abandonam a natureza documental e passeiam em torno do tema
chegam a impessoalidade ou, mesmo, à ficcionalidade das situações. Estas são
passagens que lemos com o prazer de fruição de um texto literário, isto é, de
um texto que não se aplica a uma situação única, situada e datada, mas
transcende à sua circunstância para se inscrever na sensibilidade de qualquer
leitor que a tenha.
Divertido
e levemente amargo é o humor de uma certa “carta ao marido”, que funciona como
uma ducha fria em meio à sonolência, quando confrontado com o seu pequeno
apêndice: o “bilhete ao amante”. Outras passagens poderiam também ser
destacadas, mas fica a sugestão ao próprio leitor ou leitora para fazê-lo.
Da
leitura do livro fica a confirmação de uma certeza: a mulher madura tem seus
encantos e poderes, ganhos pela experiência da reflexão e do próprio corpo, já
sábio de desejos e prazeres. Conforme as autoras ensinam, é também nesta idade
que a mulher aprende a “usar o corpo menos como uma arma de sedução e, cada vez
mais mais, como morada confortável do próprio eu.” Lição utilíssima para toda a
vida.
Se
para uns, mulher a quarenta graus assombra, para outros atrai e seduz.
Principalmente quando chega aos quarenta graus à sombra...
Para
concluir, convém dizer que embora o livro se estruture de forma natural e
alheio aos esquemas do mundo acadêmico ou científico, obedece a um rigoroso
projeto: o de ser ao mesmo tempo útil e agradável de ler. Enfim, um livro como
deve ser qualquer bom livro: inteligente.
Mª Lúcia Pereira, Regina Pimentel e Mariana
Fontes. Mulher 40 Graus à Sombra –
Reflexões sobre a vida a partir dos 40 anos. Rio de Janeiro, Objetiva, 1994.
Mulher a 40 graus assombra (resenha de livro).
“Livros & Idéias”, seção do jornal A Tarde, Salvador, 17 out. 94, p.
5.
Breviário e Revista da
Academia
A
Academia de Letras da Bahia está com duas publicações nas livrarias: o Breviário, em segunda edição, e a sua
Revista, que chega ao número quarenta.
O
Breviário da Academia de Letras da Bahia,
de autoria do historiador e bibiófilo Renato Berbert de Castro, nesta nova
edição atualizada, registra a história da instituição e dos seus mebros, desde
a 1917, ano em que foi fundada, até 1994. Pela riqueza dos dados reunidos por
Renato, um pesquisador sério e incansável, o Breviário não é apenas um livro útil a quem queira conhecer a
história das Academia, mas um documento imprescindível para a história da
inteleigência no nosso Estado.
Como
a Academia é um clube de convivência intelectual que reúne uma significativa
parcela das mais destacadas figuras do mundo cultural, quer na ára das Letras,
que lhe dá nome, quer em outras áreas onde o fazer humano, ou a cultura,
acrescenta algo à natureza, ao reunir dados para a história do sodalício,
Renato Berbert de Castro publica uma importante contribuição para a história da
inteligência e do pensamento na Bahia.
O
número quarenta da Revista da Academia de
Letras da Bahia, publicação dirigida por Edivaldo Boaventura, traz artigos
de quase todos os seus membros, desde James e Jorge Amado a Jorge Calmon,
Cláudio Veiga, atual presidente da instituição, Luís Viana Filho, Antonio
Carlos Magalhães, Josapath Marinho, Wilson Lins, João Eurico Matta, Renato
Berbert de Castro, Edivaldo Boaventura, Anna Amélia Nascimento, Thales de
Azevedo, Hildegardes Vianna, Itazil Benício dos Santos, Ary Guimarães, Carlos
Eduardo da Rocha, Waldemar Mattos, Rubem Nogueira, Mons. Gaspar Sadock, Waldir
Freitas de Oliveira, José Silveira, Gérson Pereira dos Santos, Jaime de Sá
Meneses, Walfrido Morais, Cid Teixeira, Hélio Pólvara, Consuelo Novais Sampaio,
Luis Henrique, Vasconcelos Maia, Epaminondas Costalima, Myriam Fraga, Oldegar Vieira,
João Carlos Teixeira Gomes, Ivan Americano, Carvalho Filho, Godofredo Filho,
Clóvis Lima, Paulo Ormindo e José Calasans. Pela lista incompleta de
colaboradores deste número pode-se aquilatar a extensão do volume: são quase
quinhentas páginas de artigos, pronunciamentos e textos de criação literária.
Convém
ressaltar ainda que a Revista da Academia
de Letras da Bahia é uma das mais antigas revistas do país: com seus trinta
anos de fundada, continua viva e atuante, chegando a este número com pleno
vigor e com uma vasta seleção de textos. Nos últimos anos sua publicação vem
sendo patrocinada pelo Desenbanco, num excelente exemplo de como uma empresa
estatal pode servir ao desenvolvimento cultural da comunidade.
* * *
Livros & Idéias é publicada toda segunda-feira,
na página 5 do segundo caderno de A TARDE.
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